27 junho 2018

Entre Santa Cecília e Barra Funda

Passei o dia desenhando na região de Santa Cecília e Barra Funda. Fiz apenas 3 desenhos apesar de tantas horas produzindo. E ainda assim, desenhos meio inacabados.
Na verdade esse do Minhocão foi interrompido mesmo, devido ao sol. Sabe quando você começa a ficar meio impaciente, sentindo o suor escorrer dentro da roupa, a visão meio embaralhada? rs...aguentei até onde foi possível.
E ficou assim. Não sei se vou mexer ou se voltarei lá algum dia para finalizar ou recomeçar.
Levantei e acabei entrando num boteco...tomei um pingado! ...suando.

Esse é o segundo desenho que fiz ontem.
O Palacete Momo e o Chorão.
Esse predinho fica à rua Vitorino Carmillo, quase na esquina com a Alameda Northman. Uma beleza de edificação, repleta de detalhes preciosos.
Trata-se de um prédio com térreo p/ comércio, mais dois pavimentos e sótão. Cada apartamento tem acesso por uma das escadas laterais. Hoje é uma pensão, pelo que me informaram, e está bem conservado, pelo menos por fora.
Fiquei sentado à sombra de uma árvore. O chorão que tentei retratar tampava boa parte da fachada, assim como a árvore do outro lado da rua.
A luz estava linda, mas banhava somente a empena lateral, embora tenha formado um recorte interessante (que fui retratando aos poucos) na fachada principal, nisso que se assemelha a uma bay-window.
Tentei deixar o desenho o mais leve possível, porque queria ser rápido. Apanhei do chorão. Fiquei com vontade de apagá-lo por inteiro. Mas como dizem: assim é.

Este foi o último feito no último sábado...detalhe do "Parque Savóia", na mesma rua Vitorino Carmillo. Trata-se de uma vila edificada na década de 1930 pelo engenheiro Arnaldo Mais Lello, para uma família de um imigrante polonês.
Essa é uma vista dos terraços que se projetam sobre o portão principal com destaque para o dragão de pedra que me chamou muito a atenção. Um senhor que passava me perguntou qual era a função desses terraços e minha sugestão foi que devíamos imaginar essa construção na época em que foi construída...com certeza a vista ali de cima devia ser bem atraente, com a região pontuada apenas por mansões e muito verde.
Ah se eu pudesse passar um dia todo desenhando para dentro dos portões. Quem sabe um dia.

Apanhei muito para tentar construir essa perspectiva de baixo pra cima. Nessa altura já estava meio cansado, apesar do animador tapinha nas costas que ganhei de uma senhora que passara por lá.


09 junho 2018

Sr. Maví, o sapateiro

Hoje foi um dia de sentimentos distintos.
Fiz este desenho do Sr. Maví, o sapateiro, e sua oficina na Av. Paula Ferreira - Freguesia do Ó, São Paulo.
Durante a semana fui levar lá uma blusa que estava com o ziper emperrado. Ele consertou pra mim e não quis cobrar. Notei a oficina dele...uma bagunça! Mas que tema...Perguntei se eu podia ir 'qualquer dia' desenhar lá. Ele não sei se entendeu bem, mas concordou com a cabeça.
Pois...fui hoje mesmo. Cheguei, expliquei o que ia fazer e ele já foi bem solícito. Me ofereceu uma cadeira, mas eu disse que ia ficar em pé mesmo, para não se preocupar comigo.
Fiquei das 10:00 às 13:00hs, quando parei para almoçar na padaria ali perto. Depois voltei e fiquei mais 2 horas. Ao todo, 5 horas de desenho, meu novo recorde (acho).
Não fiquei cansado...acho que os exercícios para a lombar na academia estão ajudando rs.
Tomei café e guaraná oferecidos por ele...conversamos sobre tudo. De futebol à espiritualidade. Ele é evangélico. Chegou a parar para orar, pegando a bíblia que se encontra no balcão (no desenho, no suporte à esquerda). Não sei se ajoelhou ou sentou-se no chão, porque sumiu atrás do balcão por uns instantes.
Pernambucano de Caruaru, tem 3 filhos e é separado.
Disse que vai retornar para sua cidade natal para ficar com os filhos, que moram por lá. Está há 18 anos trabalhando neste local, mas ha muito tempo em São Paulo. Trabalha com calçados desde jovem.
Nos despedimos com a promessa que levarei uma cópia do desenho para ele "guardar de lembrança".

Sr. Maví em seus afazeres diários.

Enquanto ele mastigava um sanduíche, eu tirei essa foto, já indo embora.

Ensinando-me a apontar o lápis com o estilete

Foram momentos intensos, mas prazerosos. Mais tarde, fiquei sabendo que a gatinha que eu tive com minha ex-esposa faleceu. Viveu 14 aninhos e era um doce de ser.

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I made this drawing of Mr. Mavi, the shoemaker, and his workshop at Paula Ferreira Avenue in São Paulo. I went there to get the zipper of one of my jackets fixed. He fixed it for me and didn’t even want to charge me. I couldn’t help but notice how messy the workshop was. But what a great scene! I asked if I could come by to draw it some other time. I don’t know if he understood, but he nodded his head.

When I showed up days later, I explained what I planned to do and he quickly offered me a chair. He was very willing to help, but I said I would stand up and not to worry! I spent from ten in the morning to one in the afternoon, then took a break to have lunch nearby. Then I came back and stayed for another two hours. In all, five hours of drawing, a new record. I didn’t even get tired. I think my fitness exercises must be helping!

Mr. Mavi, who is in his mid 60s, also offered coffee and guarana and we chatted a bit about everything, from soccer to spirituality. He’s Evangelical. He took a break to pray, taking a Bible that was on the counter – you can see in the drawing to the left. I don’t know if he kneeled or sat on the floor because he disappeared behind the counter for a moment.

He is originally from Caruaru in the state of Pernambuco. He has three children and is separated. He said he will return to his hometown to stay with his children, who live there. He's been working in this workshop for the last 18 years, but has spent many more in São Paulo, working as a shoemaker since he was young.

We said goodbye, and I promised to bring him a copy of the drawing so he can keep it as a memento of the workshop.


03 junho 2018

Mercado de Pirituba


Aproveitei o feriado de Corpus Christie e fui visitar o Mercado Municipal de Pirituba, na Zona Norte de São Paulo. Foram 3km de caminhada para chegar desde aqui, o Largo da Matriz na Freguesia.
Fiquei impressionado com a beleza do edifício! Trata-se de uma enorme cobertura de concreto sustentada apenas em um núcleo central, com uma grande coluna de concreto que funciona tb como caixa d´água. Tem 70 metros de diametro. É incrivel a delicadeza da estrutura - deve ter meros 10cm na extremidade, talvez nem isso!
O projeto é do arquiteto Abelardo Riedy de Souza, o mesmo que projetou o ed. Nações Unidas na esquina da Av. Paulista com a Brigadeiro. O projeto estrutural foi assinado pelo engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz (que entre tantas obras calculou o MASP, a cúpula da catedral da Sé e o planetário do Ibirapuera).
Cheguei às 10:00 e logo recebi uma visita...fiquei conversando com o Sr. Fernando, morador do bairro, angolano no Brasil há 50 anos, filho de portugueses. Batemos um bom papo. Ao se despedir, dizendo que já estava me "atrapalhando", deu-me a mão e desejou-me um bom trabalho. Um pouco adiante parou, e perguntou meu nome. Completou dizendo que seus pais chamavam ... (não lembro o nome do pai) e Laura. "Lindo esse nome né?" "olha, fico até arrepiado ao lembrar dos meus pais...". Virou e foi embora com a cachorrinha. O arrepio do braço dele passou para o meu.
Ás 12:00 parei e entrei no mercado para tomar um pingado e comer um enrolado de calabresa. Fui ao banheiro também.
Voltei e fiquei desenhando até quase às 14:00.
Mais algumas pessoas pararam e conversaram comigo, elogiando o prédio, lamentando as condições de manutenção.
Um outro senhor me informou que o janelão foi adicionado a posteriori. "Era pra ser aberto!"...mas fecharam, pois obviamente chovia dentro.
Uma outra moça ainda disse "sou apaixonada por esse prédio...parece uma flor".
Fui retornando pra casa...infelizmente fiquei com uma forte dor de cabeça. Ainda comi uma coxinha e uma esfiha no caminho rs. Dormi para passar a dor e trabalhei mais alguns minutos no desenho.

Ao postar este desenho no Facebook, fiquei muito contente com o feedback que as pessoas me deram. Alguns comentaram que moram ou moravam ali perto, e o prédio sempre foi uma referência para eles:

"Vc me fez relembrar tantas histórias! Morei bem pertinho dai qdo era criança. Esse prédio fez parte dela! Sempre o achei muito diferentão e gostava de passar pelos arredores, no escadão, parquinho... Ele ficava sempre no meio do caminho pra algum lugar. Meio do caminho da casa da minha vó Cida, pro outro lafo da casa da tia Bela, pra outro pra igreja e escola, loterica do meu avô... Pra cada lado tinha uma história..." (Arq.Daniela Hladkyi)