11 janeiro 2021

Sobre COPIAR fotos

Eu tenho observado que muitos artistas, profissionais ou não, tem uma certa vergonha de dizer que utilizaram uma foto como referência, ou 'copiaram' a fotografia. Há muita gente que critica essa prática com o argumento que 'pra que fazer isso se pode tirar uma foto?' ou, 'ah, assim você não está se expressando'. 

Eu confesso que há em mim também um lado que tem receio de ser categorizado nesse balaio de quem 'só copia foto'.

Por outro lado, começa a crescer e se fortalecer a consciência de que TUDO BEM, eu adoro copiar fotos, quer seja de natureza, da figura humana ou de cenas urbanas!! E está tudo certo com isso, e vou continuar com essa prática enquanto me der prazer. 



Acho, assim, que não temos que ter vergonha de 'copiar'. Sabe porque? Porque se dermos a mesma foto de referência para mil pessoas, teremos mil desenhos diferentes. Mesmo que todos se esmerem, se dediquem ao máximo em 'copiar' a tal foto. Isso vale inclusive para o desenho urbano de observação. Cada um traz consigo uma bagagem diferente, técnica e emocional. 

Eu li esse dias uma resposta de artista hiperrealista a um comentário jocoso sobre um trabalho dele: a pessoa disse "nossa, você não cansa de só copiar fotos?". A resposta do artista, firme e elegantissima, foi uma aula. Ele convidou a pessoa a ir ver um trabalho dele pessoalmente, em uma galeria de arte. Se colocou a disposição para estar lá, e apresentar o trabalho para ela, falar sobre sua técnica, suas intenções, sobre seu processo. Ele disse que modificava partes da foto, e que desenhava 'na raça', ou seja, sem 'tracing'. Mesmo que não fosse, não importa.

Eu estou encontrando minha paz com isso. E, claro, isso pode mudar, ou seja, pode chegar o dia que eu cansarei disso e resolva outra coisa. Devo me manter aberto também à minha consciência.

Também chego a conclusão que, pelo menos por enquanto, a natureza e a figura humana, exatamente como são, com toda a sua beleza e magnitude, me bastam! Eu não sinto vontade de mudar uma pedra, um cílio que seja, desde que não afetem negativamente a imagem. O mesmo vale para cenas urbanas. Cada poste, portão de ferro, rachadura na calçada são um universo em si e que MÁGICO poder retratar aquilo!! Claro, mais uma vez, desde que não interfiram na minha composição, me atrapalhem no conjunto, etc.

Uma vez enquanto eu desenhava o Pão de Açúcar ao vivo no Rio de Janeiro, uma criança me perguntou: "Você está copiando?" Eu falei "Sim!"...o que eu dizer àquela criança?

Copiar o mundo no papel é FANTÁSTICO!